Festividade Poraquê debate transição energética justa em comunidades ribeirinhas do Marajó

Observatório do Marajó
5 min readOct 3, 2024

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As festividades ocorridas no mês de setembro foram ações ligadas ao Dia da Amazônia visando debater justiça energética com perspectiva de gênero

A Festividade Poraquê aconteceu em dois municípios do Marajó, uma no dia 05 de Setembro em Melgaço, na Comunidade Nossa Senhora das Graças, comunidade ribeirinha situada no Rio Campinas, e a outra, dia 14 de setembro, na Comunidade São Sebastião, localizada no Rio Furo Grande, em Muaná. Ambas com vista a realizar um encontro para fortalecimento de lideranças de comunidades tradicionais do Marajó no debate da transição energética justa, partindo da agenda do território e da experiência das lideranças, promovendo debates, facilitação de diagnósticos de insegurança energética, bem como, produção cidadã de dados, criação de mensagens e narrativas e encaminhamento de soluções e demandas com perspectivas territoriais.

Com facilitação de Ediane Lima, Gestora de Projetos do Observatório do Marajó, a festividade em Melgaço contou com a participação de mulheres de diferentes comunidades e municípios próximos, como Breves e Portel, reunindo em torno de 40 moradores. A programação iniciada pela manhã e estendida até o final da tarde, contou com apresentação dos principais conceitos que envolvem a luta por justiça energética, como racismo energético, energia limpa, autonomia energética entre outros, além de caminhada pela comunidade para mapear potenciais energéticos e insegurança energética, apresentação cultural e de materiais, gincanas, leitura da carta das comadres e oficina de cartazes. Com um formato dinâmico para debater um assunto que ainda é muito afastado do dia a dia de algumas comunidades, Ediane destaca a importância de atrelar o tema há algo que já faz parte do cotidiano das pessoas:

“As festividades são manifestações tradicionais nas quais as comunidades se reúnem por um objetivo comum, desde festejos dos padroeiros e padroeiras locais, festivais juninos, torneios para entre outros. São tradições que organizamos desde sempre em prol de um objetivo comunitário, é uma das memórias da minha infância esperar pela data do festejo, pelas brincadeiras, reunir com familiares e amigos. E de forma a levar às questões socioambientais para dentro desse espaço já existente e recorrente, a gente propôs a festividade poraquê, adaptou as atividades e propôs dinâmicas novas que pudessem fortalecer um debate tão importante para a defesa e proteção dos nossos territórios que é a transição energética justa.”

Um dos destaques da programação em Melgaço foi a oficina de cartazes, onde as mulheres puderam construir mensagens acerca de tudo que foi abordado, de forma a sintetizar, com suas perspectivas e reflexões, o que é e como querem uma transição energética justa.

Festividade Poraquê 2024, Melgaço — Oficina de Cartazes
Cartaz produzido na oficina de cartazes — Festividade Poraquê 2024, Melgaço
Cartaz feito na oficina de cartazes — Festividade Poraquê 2024, Melgaço
Cartazes produzidos na oficina de cartazes — Festividade Poraquê 2024, Melgaço

Em Muaná, a festividade contou com a participação de moradores de duas comunidades próximas, sendo em sua maioria mulheres que já tinham contato com outras ações na pauta de energia promovidas pelo Observatório do Marajó — como as oficinas voltadas para levar o debate sobre a possível exploração de petróleo na Foz do Amazonas e a Campanha Te liga, Comadre, voltada para mulheres de comunidades ribeirinhas pautarem a luta por justiça energética no Arquipélago do Bailique e Marajó. Com a mesma programação pensada para a festividade em Melgaço, em Muaná o destaque foi para as gincanas, produção de dados e apresentação de materiais, onde foi possível identificar que para as moradoras presentes a insegurança energética é algo que interfere na garantia de outros direitos, como acesso à saúde, — visto que muitos postos de saúde não possuem hoje capacidade para armazenar medicamentos, vacinas, que necessitam de refrigeração — garantia da segurança alimentar, acesso à educação de qualidade, entre outros. A festividade encerrou com o emplacamento da comunidade anfitriã, com uma placa de madeira que ilustra a imagem de uma comunidade sustentável, com autonomia energética e estrutura comunitária de educação, saúde e produção de alimentos.

Gincana Marajoara — Festividade Poraquê 2024, Muaná
Apresentação participativa do folder “energia de qualidade pras mulheres de todas as comunidades” — Festividade Poraquê 2024, Muaná

Ambas as programações tiveram como resultados, além de levar o debate pela primeira vez para algumas participantes, apresentar e distribuir materiais com experiências e referências no tema, registrar as demandas e especificidades do acesso à energia, além de resultar em um mapeamento do modelo energético atual nas comunidades, processos esses que irão pautar incidência e embasar a construção de ações previstas nos projetos Circuito Poraquê e Diálogo das Manas, que vêm desenvolvendo treinamentos de lideranças femininas para facilitação de oficinas em suas comunidades com vista a fortalecer a liderança e autonomia das mulheres na discussão, facilitação de espaços e incidência local nas temáticas da emergência climática, transição energética e justiça socioambiental. Além disso, as construções advindas das festividades, como discussões, debates e agenda das comunidades, irão alimentar a campanha Energia dos povos, um esforço coletivo de várias organizações parceiras por uma transição energética justa e popular no Brasil.

Leia a Carta das Comadres — Arquipélago do Marajó. Um documento feito junto a outras organizações do Amapá — Utopia Negra Amapaense e Associação Gira Mundo — que lutam pela justiça energética no Arquipélago do Bailique. A carta do Marajó reúne compromissos listados por diferentes comunidades e lideranças ribeirinhas pela garantia do acesso à energia acessível e limpa, sendo construída e revisada continuamente nas oficinas e festividades.

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Um observatório cidadão de dados e indicadores de políticas públicas do Marajó e seus 17 municípios. https://www.observatoriodomarajo.org/

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