Festividade Poraquê debate transição energética justa em comunidades ribeirinhas do Marajó
As festividades ocorridas no mês de setembro foram ações ligadas ao Dia da Amazônia visando debater justiça energética com perspectiva de gênero
A Festividade Poraquê aconteceu em dois municípios do Marajó, uma no dia 05 de Setembro em Melgaço, na Comunidade Nossa Senhora das Graças, comunidade ribeirinha situada no Rio Campinas, e a outra, dia 14 de setembro, na Comunidade São Sebastião, localizada no Rio Furo Grande, em Muaná. Ambas com vista a realizar um encontro para fortalecimento de lideranças de comunidades tradicionais do Marajó no debate da transição energética justa, partindo da agenda do território e da experiência das lideranças, promovendo debates, facilitação de diagnósticos de insegurança energética, bem como, produção cidadã de dados, criação de mensagens e narrativas e encaminhamento de soluções e demandas com perspectivas territoriais.
Com facilitação de Ediane Lima, Gestora de Projetos do Observatório do Marajó, a festividade em Melgaço contou com a participação de mulheres de diferentes comunidades e municípios próximos, como Breves e Portel, reunindo em torno de 40 moradores. A programação iniciada pela manhã e estendida até o final da tarde, contou com apresentação dos principais conceitos que envolvem a luta por justiça energética, como racismo energético, energia limpa, autonomia energética entre outros, além de caminhada pela comunidade para mapear potenciais energéticos e insegurança energética, apresentação cultural e de materiais, gincanas, leitura da carta das comadres e oficina de cartazes. Com um formato dinâmico para debater um assunto que ainda é muito afastado do dia a dia de algumas comunidades, Ediane destaca a importância de atrelar o tema há algo que já faz parte do cotidiano das pessoas:
“As festividades são manifestações tradicionais nas quais as comunidades se reúnem por um objetivo comum, desde festejos dos padroeiros e padroeiras locais, festivais juninos, torneios para entre outros. São tradições que organizamos desde sempre em prol de um objetivo comunitário, é uma das memórias da minha infância esperar pela data do festejo, pelas brincadeiras, reunir com familiares e amigos. E de forma a levar às questões socioambientais para dentro desse espaço já existente e recorrente, a gente propôs a festividade poraquê, adaptou as atividades e propôs dinâmicas novas que pudessem fortalecer um debate tão importante para a defesa e proteção dos nossos territórios que é a transição energética justa.”
Um dos destaques da programação em Melgaço foi a oficina de cartazes, onde as mulheres puderam construir mensagens acerca de tudo que foi abordado, de forma a sintetizar, com suas perspectivas e reflexões, o que é e como querem uma transição energética justa.
Em Muaná, a festividade contou com a participação de moradores de duas comunidades próximas, sendo em sua maioria mulheres que já tinham contato com outras ações na pauta de energia promovidas pelo Observatório do Marajó — como as oficinas voltadas para levar o debate sobre a possível exploração de petróleo na Foz do Amazonas e a Campanha Te liga, Comadre, voltada para mulheres de comunidades ribeirinhas pautarem a luta por justiça energética no Arquipélago do Bailique e Marajó. Com a mesma programação pensada para a festividade em Melgaço, em Muaná o destaque foi para as gincanas, produção de dados e apresentação de materiais, onde foi possível identificar que para as moradoras presentes a insegurança energética é algo que interfere na garantia de outros direitos, como acesso à saúde, — visto que muitos postos de saúde não possuem hoje capacidade para armazenar medicamentos, vacinas, que necessitam de refrigeração — garantia da segurança alimentar, acesso à educação de qualidade, entre outros. A festividade encerrou com o emplacamento da comunidade anfitriã, com uma placa de madeira que ilustra a imagem de uma comunidade sustentável, com autonomia energética e estrutura comunitária de educação, saúde e produção de alimentos.
Ambas as programações tiveram como resultados, além de levar o debate pela primeira vez para algumas participantes, apresentar e distribuir materiais com experiências e referências no tema, registrar as demandas e especificidades do acesso à energia, além de resultar em um mapeamento do modelo energético atual nas comunidades, processos esses que irão pautar incidência e embasar a construção de ações previstas nos projetos Circuito Poraquê e Diálogo das Manas, que vêm desenvolvendo treinamentos de lideranças femininas para facilitação de oficinas em suas comunidades com vista a fortalecer a liderança e autonomia das mulheres na discussão, facilitação de espaços e incidência local nas temáticas da emergência climática, transição energética e justiça socioambiental. Além disso, as construções advindas das festividades, como discussões, debates e agenda das comunidades, irão alimentar a campanha Energia dos povos, um esforço coletivo de várias organizações parceiras por uma transição energética justa e popular no Brasil.
Leia a Carta das Comadres — Arquipélago do Marajó. Um documento feito junto a outras organizações do Amapá — Utopia Negra Amapaense e Associação Gira Mundo — que lutam pela justiça energética no Arquipélago do Bailique. A carta do Marajó reúne compromissos listados por diferentes comunidades e lideranças ribeirinhas pela garantia do acesso à energia acessível e limpa, sendo construída e revisada continuamente nas oficinas e festividades.
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